sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Talento versus Sucesso

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Quando nos surge a palavra talento, lembramo-nos logo de alguém, conhecido ou não, que é detentor de uma grande inteligência, criativo, extremamente hábil ou com alguma aptidão notável, natural ou adquirida, que fomenta o êxito numa determinada atividade.
Para começar, é bom deixar claro que quase todos têm um talento ou alguns talentos, mas esses talentos precisam ser descobertos e, principalmente, desenvolvidos.
Pois o verdadeiro artista, desportista ou outro profissional qualquer, forma-se com trabalho, dedicação, errando e aprendendo com humildade. Claro que o fator sorte, também ajuda – e muito – a se atingir o sucesso de projetos nos mais diversos âmbitos.
Mas nas palavras de Hector Berlioz “a sorte para ter talento não é suficiente, é preciso ter talento para a sorte.”
No entanto, quantas pessoas conheceram que, realmente tinham o talento que precisavam para serem bem-sucedidas, mas, mesmo assim, não tiveram sucesso nas suas carreiras? Lá está a sorte, ou melhor, a falta dela, dirão muitos de vós. Mas outras pessoas não tiveram êxito contínuo, nas suas carreiras, por não saírem da sua zona de conforto, julgando que o caminho seria sempre fácil, apoiando-se simplesmente no seu talento em vez de desenvolvê-lo.
De acordo com esta ideia está o compositor Irving Berlin, quando disse: “a pior coisa do sucesso é que temos de continuar a ser um sucesso. Talento é só o ponto de partida. Temos de continuar a trabalhar esse talento”.
Para se atingir o sucesso, há que investir tempo, energia, ter confiança nos objetivos. A realização de um sonho depende muito do apego consistente que se dá ao mesmo. E não ficar, simplesmente, à sombra da bananeira, à espera que as coisas aconteçam por si só.
Para detetarmos, incentivarmos e melhorarmos os talentos no nosso país, temos que incrementar ideias empreendedoras no sistema educativo desde o nível básico ao superior, envolvendo as empresas e as comunidades.
Perante o tão diverso mundo artístico ou desportivo, o papel do professor, orientador, deve ter também em atenção a capacidade de detetar e potencializar os talentos das crianças e jovens. Contactámos diariamente com alunos muito habilidosos e outros que até demonstram um talento natural, – que é uma das maiores dádivas da vida – porém, se não forem incentivados e bem orientados dificilmente atingem patamares de excelência. Um professor realiza-se orientando também os talentos que vai descobrindo. Pois, tal como os diamantes, os talentos necessitam de serem lapidados.
A aposta na formação é essencial, mas também conhecemos nas diversas áreas pessoas que conseguiram o sucesso sem tirarem diplomas. E muitos sãos os líderes talentosos, disciplinados nas suas ações, que possuem um alto padrão de desempenho. No entanto, a maioria das pessoas que são bem-sucedidas, são empreendedoras, exigentes consigo mesmas e com os outros. Demonstram prazer nos desafios, têm pulso, garra e gostam de competir. São pessoas inspiradoras que vendem ideias, que realizam enquanto os outros desejam.
Dir-me-ão que tudo isto é muito bonito, com muitos exemplos que deviam servir de inspiração, mas que na prática as coisas não são bem assim. E estou de acordo com vocês. Quantos jovens estudantes, atletas, artistas com elevado potencial, muito acima da média, “desnortearam-se” durante o seu percurso de formação? O que mostra que não basta ter só talento é preciso muita dedicação, muito trabalho e esforço, para se chegar e manter o sucesso. Temos que refletir constantemente se estamos a investir a quantidade de tempo suficiente para melhorar. Pois só o talento inato não basta.
Talento sem ação não gera realização. O talento é uma aptidão especial que pode e deve ser desenvolvido. Um bom exemplo é o percurso desportivo de Cristiano Ronaldo, que foi sempre em crescendo. Atualmente com três bolas de ouro e uma marca avaliada em milhões e milhões de euros. Devemos ter sempre em conta que de uma forma mais segura “todo o talento é 1% de inspiração e 99% de transpiração”.
Já que referimos um talento desportivo, entre outros tantos que têm surgido nas diversas áreas na nossa ilha, não esqueçamos também o talento e sucesso da jovem madeirense Micaela Abreu, que tem brilhado no Got Talent Portugal, programa da RTP 1.
Alguns acham que o talento é a resposta para todos os problemas, no entanto, há que construir um alicerce bem seguro, tomando escolhas importantes para que se possa maximizar o talento de qualquer pessoa, desde o acreditar, o gostar, o agir, o focar-se, o prepara-se, o praticar, o ter coragem, abertura, carácter, procurar relacionar-se, ser responsável e cooperar na hora de aprender e ensinar.
Em 2013 realizou-se no nosso país um Estudo para o Desenvolvimento do Talento em Portugal numa iniciativa promovida pela COTEC Portugal e pela Fundação Calouste Gulbenkian, em parceria com a everis Portugal, e com o Alto Patrocínio de Sua Excelência o Ex Presidente da República, que teve como objetivo elaborar um estudo sobre a identificação, desenvolvimento e realização do Talento em Portugal.
Sua Excelência o ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva escreveu no prefácio desse estudo que: “No plano interno, importa identificar e estimular as potencialidades e os talentos dos nossos jovens, sejam eles investigadores e cientistas, empresários ou trabalhadores, criadores e artistas, ou voluntários que dão o melhor de si ao serviço dos outros e do bem comum. As qualificações e os méritos das novas gerações devem ser enquadrados e transformados em valor. Aqui reside o maior ativo estratégico de Portugal.”
Ainda neste estudo da COTEC (http://www.cotecportugal.pt/talento/), lê-se: “O talento também não é hereditário, não escolhe idades, nem é estanque ao longo da vida. Sobretudo, ter talento não é equiparável a ter sorte e não é, só por si, uma condição suficiente para alcançar o sucesso”.
Não tenhamos dúvidas que o talento é uma área que diz respeito a todos, por ser primordial para o desenvolvimento de cada cidadão junto das comunidades, tornando-as mais ativas e assim, contribuir também para uma economia mais dinâmica e competitiva.
Também para atingirmos o sucesso de uma região, como a Madeira, deve-se ter em conta tudo o que se passa globalmente para agirmos ainda melhor localmente. Mesmo sabendo que é difícil manter o sucesso em alta, o importante é não desistir perante as dificuldades e agir com confiança. Termino com estas palavras de alento, bem conhecidas e inspiradoras: “Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo.” Fonte: (https://recreiodasletras.wordpress.com/2009/02/28/fernando-pessoa-pedras-no-caminho/).

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