quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

William Shakespeare para sempre em cena

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Um pouco por todo o mundo está-se a comemorar ao longo deste ano de 2016, os 400 anos da morte do sublime dramaturgo e poeta inglês, de seu nobre nome, William Shakespeare. Para muitos entendedores da arte teatral, é considerado o maior dramaturgo de todos os tempos. Nasceu, provavelmente, a 23 de abril de 1564 em Stratford-upon-Avon e morreu, também, a 23 de abril de 1616 na mesma cidade. Após quatro centenas de anos da sua morte, a sua obra teatral continua a ser uma presença solicitada e obrigatória nos palcos em todo o mundo.
Shakespeare, foi, sem margens para dúvidas, um dramaturgo polifacetado que escreveu excelentes peças em vários géneros teatrais, entre comédias como: O Mercador de Veneza, Sonho de uma Noite de Verão, A Comédia dos Erros, Muito Barulho por Coisa Nenhuma, Noite de Reis, Medida por Medida, etc. Nas tragédias deixou-nos textos como: Romeu e Julieta, Júlio César, Otelo, Macbeth, António e Cleópatra, Coriolano, Rei Lear, e Hamlet, entre outros. E ainda dramas, tais como: Henrique IV, Ricardo III, Henrique VIII.
Os textos de Shakespeare são marcas de cultura que têm atravessado gerações e sobrevivido no palco – teatralmente falando – porque são histórias que apaixona-nos com a sua bela arte dramática. Com passagens, versos ou frases que ficaram na memória das pessoas. Quem não conhece a sua famosa frase “ser ou não ser, eis a questão” que faz parte da peça “Hamlet”. Esta é realmente uma das frases marcantes, profundas e até conhecidas da literatura dramática mundial. E quem já não leu, ouviu ou viu a tragédia Romeu e Julieta. Nomes que marcam a mais intemporal das histórias de amor. Por falar nesta obra é curioso pensar-se que “se Romeu e Julieta não tivessem morrido, a civilização ocidental não seria a mesma, garantem críticos literários e estudiosos da obra de William Shakespeare.” Fonte: http://super.abril.com.br/cultura/e-se-romeu-e-julieta-nao-tivessem-morrido).
A obra de William Shakespeare é tão rica e popular porque centra-se em situações presentes no meio da Humanidade e daí fazerem parte do reportório teatral das grandes companhias da arte dramática por esse mundo fora. Uma obra literária tão vasta com cerca de 40 peças e mais de 150 sonetos,  deixados por este mestre do teatro, que daria, certamente, para trabalhar teatralmente neste caso, durante anos e anos. Temas como o amor, vingança, o ódio, a morte, a traição, o ciúme, o poder, entre outras questões sociais e temas políticos são constantes nas obras Shakespearianas. É uma obra tão inspiradora que, de forma constante, tantos criadores por esse mundo fora, pegam nos seus textos através do teatro, da dança, do cinema, da música, da ópera, das artes plásticas e criam diversas performances artísticas.
As peças de William Shakespeare produzem uma teatralidade tão forte em cena, que leva a que estes textos sejam constantemente traduzidos e encenados em todo mundo, mesmo quatro séculos depois da morte do seu autor.
As obras Shakespearianas também têm sido reescritas e por vezes alvo de arranjos dramatúrgicos, mais ou menos livres, o que para muitos conservadores é uma calúnia. Quando se fala em clássicos da dramaturgia, parece que há um medo de adaptar – sem desvirtuar – os textos. Há os que se mantêm fieis à íntegra do texto, não cortando uma única palavra e, há outros – nos que me revejo – que preferem cortar algumas palavras, ou passagens de forma a adequar o texto ao grupo em questão e ao público-alvo. Obviamente, que os cortes não poderão ser feitos à bruta. No entanto, há que ter em conta que os textos originais foram escritos para uma determinada época que deve ser respeitada, mas também têm que ser percetíveis nos tempos atuais. É um assunto polémico, bem sei. E há que ter o maior respeito pelas obras que não são nossas. Por vezes, os textos são distorcidos e simplificados até dizerem o que a obra original não diz. A verdade, porém, é que muitas vezes, assistimos a espetáculos teatrais ditos clássicos – como os de William Shakespeare – que são uma “seca” autêntica, por terem textos massudos ou com passagens muito repetitivas. É importante ouvir a sabedoria dos entendedores da obra Shakespeariana, mas também temos que avançar com os nossos conceitos artístico-teatrais. Pois nas palavras sábias de William Shakespeare “aceita o conselho dos outros, mas nunca desistas da tua própria opinião.”
Atualmente, muitas peças de Shakespeare são encenadas numa perspetiva contemporânea. Até já se adaptou, e bem, em livros algumas obras para o universo infantil. Julgo ser muito pertinente adaptar ao palco, clássicos de Shakespeare para o público infantil. É uma forma bastante enriquecedora das crianças experienciarem o teatro do maior autor da dramaturgia contemporânea ocidental. Ao menos vão ficando com uma ideia sobre estas histórias que têm encantado a humanidade.
Infelizmente, na Madeira, assistimos há uma quase total ausência da representação teatral das peças de William Shakespeare, pelos grupos locais. Só aparecem no palco, ocasionalmente. E na Madeira temos uma razão acrescida para conhecermos bem e levarmos à cena as peças de William Shakespeare, pois este dramaturgo referiu na sua obra o nosso precioso vinho Madeira, como podemos constatar na peça “Henrique IV” onde Falstaff é acusado de trocar a sua alma por uma perna de frango e um cálice de vinho da Madeira.
No entanto, as comemorações dos 400 anos da morte de William Shakespeare não foram esquecidas em Portugal, pois entre outras iniciativas, numa parceria entre o Teatro Nacional D. Maria II, e o Teatro Municipal São Luiz, realizou-se um festival Shakespeare, denominado “Glorioso Verão”, entre 8 julho e 13 agosto.  Neste evento apresentaram-se diversos espetáculos a partir da obra de Shakespeare, ocupando diversas salas, mas também o espaço público da cidade.
A obra de Shakespeare também está, artisticamente, consagrada no cinema, como nos seguintes casos: “Romeo and Juliet” de Franco Zeffirelli; “Hamlet” de Laurence Olivier; “Macbeth” de Roman Polanski; “King Lear” de Peter Brook, entre outros.
Apraz-me esta ideia de em pleno século XXI continuarmos a realizar espetáculos, a partir da imemoriável obra de Shakespeare que morreu há 400 anos e que continua ”bem vivo”. Os temas shakespearianos continuam a agradar tanto a profissionais como a amadores porque são muito estimulantes, até para outras linguagens artísticas além do teatro, como a televisão, cinema, a ópera e literatura.
A grandeza dos textos de Shakespeare, tanto no teatro como na poesia, empela as pessoas a revisitar, esporadicamente, a sua obra. Temas tão ligados a essência do ser humano como a traição, o amor, a paixão, a vingança, o poder, o ódio, etc., serão eternos. Por isso é que importa conhecer o teatro e a poesia de William Shakespeare, para gozo próprio – estético ou outro – e aumentar assim a nossa cultura geral através do conhecimento destas obras. Para finalizar, deixo-vos com uma frase de William Shakespeare, que aprecio imenso: “O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e todas as mulheres são apenas atores.”

As Artes nas Atividades de Enriquecimento Curricular

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Já que estamos às portas de iniciar um novo ano letivo, que tal, debruçarmo-nos um pouco sobre a importância das artes nas atividades de enriquecimento curricular das nossas crianças e jovens?
À partida, ninguém tem dúvidas que, na escola atual as atividades de enriquecimento curricular são um pertinente contributo para o sucesso educativo. Pois, qualquer atividade pedagógica quando bem implementada, contribui para o desenvolvimento cognitivo, pessoal, social, artístico, físico e cultural das crianças e jovens. Que, como sabemos, alguns estudantes, além da escola, não têm outra possibilidade de experienciar uma atividade artística ou desportiva, por exemplo.
A escola em conjunto com os atores da aprendizagem – que são os alunos – deve construir através da atividades de enriquecimento curricular, projetos pedagógicos eficazes que promovam o gosto por aprender. Os estudantes envolvidos numa atividade extracurricular, por gosto e não por imposição dos encarregados de educação, são alunos mais felizes e assim melhoram o rendimento escolar.
Mas, infelizmente, ainda temos alguns docentes em pleno século XXI, que não são apologistas das atividades extracurriculares. Não entendem que o facto das atividades extracurriculares, serem uma opção consciente e livre dos alunos e respetivos encarregados de educação, são, igualmente, um bom contributo para as disciplinas do currículo obrigatório, tendo em consideração que trás efeitos benéficos para o desenvolvimento e bem-estar das crianças e dos adolescentes. Ainda deparamos com situações, no meu entender, antieducativas, quando um aluno tem um nível negativo a uma determinada disciplina, a primeira medida – (anti)pedagógica -, é prepor a retirada do mesmo aluno das atividades extracurriculares. Como se isso fosse uma solução para o problema. Quando muitas das vezes é nos espaços de atividades extracurriculares que o aluno se sente motivado para os assuntos académicos e não para assuntos divergentes ao espaço escolar.
Além demais, diversos estudos confirmam que os alunos que praticam atividades de enriquecimento curricular, como as áreas artísticas e desportivas, podem melhorar o desempenho nas disciplinas regulares. Ao escolherem um atividade extracurricular, estão a ter uma atitude autónoma e a serem mais responsáveis pelo desenvolvimento da própria aprendizagem que é transversal a todas as áreas do conhecimento. Há que não esquecer que também, por vezes, no decorrer das atividades até se descobrem talentos ligados às expressões artísticas, desportivas, entre outras áreas.
Por experiência de docente, acredito que os alunos que estão envolvidos em atividades extracurriculares andam mais motivados e isso contribui também para conseguirem resultados escolares favoráveis. Pois as atividades extracurriculares são uma mais valia e não um estorvo para a aprendizagem. Obviamente que sou contra a ocupação excessiva dos alunos com atividades extracurriculares, quando as mesmas prejudicam o tempo necessário para os fazeres escolares ou o tempo imprescindível para estar em família. É verdade que não devemos subcarregar os alunos com atividades extra curriculares, mas ao menos uma – artística ou desportiva – é certamente um benefício para melhorar a autoestima e contribuir para o sucesso escolar.
Na verdade, nas nossas escolas existe um leque larguíssimo de áreas que são desenvolvidas no contexto das atividades extracurriculares, tais como: teatro, música, dança, artes circenses, xadrez, línguas estrangeiras, desporto, culinária, novas tecnologias, entre outras tantas temáticas que contribuem e de que maneira para um melhor desempenho escolar. Bem hajam as escolas que dispõem de uma adequada oferta de atividades de enriquecimento do currículo para os seus alunos. Pois as “atividades extracurriculares são consideradas como parte integrante da responsabilidade de uma escola, para proporcionar uma educação equilibrada (…)” (Shulruf, Tumen & Tolley, 2008).
As atividades extracurriculares contribuem para que o currículo dos alunos seja mais enriquecedor e holístico. E também dão projeção à escola, abrindo-a cada vez mais à comunidade envolvente. Mas para isso ser uma realidade, devem apresentar-se resultados práticos à comunidade em forma de espetáculos, eventos desportivos, exposições, oficinas abertas, encontros, festivais. E até convidar-se outras escolas a apresentar as suas propostas desenvolvidas nos seus espaços.
O facto de os alunos serem acompanhados e até elogiados pelos pais e comunidade nas suas atividades, onde mostram o que são capazes de fazer, torna-os em alunos mais motivados, o que se refletirá em melhores resultados nos estudos.
Por vezes, há a ideia que a escola atual dá mais importância às disciplinas de Línguas e de Matemática, por exemplo, e que a área das expressões artísticas fica votada para um segundo plano, ou em grande parte, desenvolvida, somente, nas atividades de enriquecimento curricular. Mas é bom que se entenda que o interesse dos alunos pela prática de uma área artística, dentro ou fora do âmbito de atividades extracurriculares contribuirá certamente para termos alunos mais felizes e até alcançarem êxito em todo o processo de ensino-aprendizagem.
Uma escola dinâmica, aposta na oferta variada de atividades de enriquecimento curricular – nomeadamente nas expressões artísticas – que contribui para o integral desenvolvimento dos alunos e aumenta a responsabilidade dos mesmos perante os valores escolares e da comunidade.
Conjuntamente, pais, professores, escola e comunidade devem criar condições favoráveis que possam incentivar as crianças e jovens a investir nos tempos extracurriculares em vez de ficarem, normalmente, em casa presos à televisão ou às redes sociais. Até sua santidade o “Papa Francisco desafia jovens a sair do sofá” (https://funchalnoticias.net/2016/08/03/papa-francisco-desafia-jovens-a-sair-do-sofa/)