sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Aprender implica ler, dentro e fora de portas

wpid-icon-ze-abreu.pngA preocupação com a importância e relevância da leitura é antiga, e continua a ser na sociedade hodierna, um assunto muito sério, que diz respeito a todos, a começar pela família, passando pela escola e abrangendo a comunidade em geral.

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Uma sociedade que domine a leitura e a escrita é certamente uma sociedade mais equitativa, feliz e criativa. Mas temos que estar conscientes que o exercício de ler, não se limita à escola, deve ser um hábito saudável em casa, nas férias, diria mesmo, uma companhia permanente na nossa vida.
O gosto pelo livro e pela leitura deverá ser incutido desde muito cedo. A vivência das crianças junto de pessoas que leem, seja a mãe, o pai, o irmão, o professor, é o melhor exemplo para que adquira o gosto pela leitura.
O ideal seria termos alunos que lessem por prazer e conscientes da sua importância no desenvolvimento cognitivo, nas suas aprendizagens, no impacto dos resultados escolares e até no desenvolvimento de uma cidadania mais proativa.
Por falar em alunos, no presente ano letivo tenho frequentado duas bibliotecas escolares e verifiquei que a presença de professores nesses espaços era muito fraca. Num desses locais, a responsável pela biblioteca escolar referiu que a maioria dos professores dessa escola não passa uma única vez pela biblioteca, durante o ano letivo. Provavelmente, esta situação não se aplica a todas as bibliotecas escolares. Mas é caso para perguntar: Como pode um professor ser um exemplo de bom leitor para o aluno, ou mesmo aconselhar, vivamente, a leitura, se o próprio docente não frequenta a biblioteca escolar? E já agora, os encarregados de educação, quantas vezes acompanham os filhos a uma biblioteca? Também, custa tanto ver bibliotecas escolares na nossa região que não recebem, diariamente, pelo menos um dos nossos matutinos, em papel, para que os alunos os possam ler e estar informados sobre o que se passa na região e forra dela. Como podemos falar em sucesso educativo com estas lacunas?
É verdade que na promoção da leitura e do livro, como temos vindo a defender, não podemos tomar só como ponto de referência a escola, primeiro a família deve ler e ter o bom hábito de possuir livros em casa. Quem não tem disponibilidade financeira para investir em livros, não é desculpa, pois hoje não há concelho que não tenha, pelo menos, uma biblioteca onde se pode requisitar, gratuitamente, livros dos vários géneros literários.
Atualmente, nas bibliotecas e no mercado, existe um vasto leque de livros, para as diferentes idades e para todos os gostos. Desde ficção, aventura, poesia, romances, contos, novelas, peças de teatro, banda desenhada, etc. O importante é que o livro se adeque à idade do leitor, para que ele não se aborreça. Outros critérios a ter em conta na escolha dos livros para crianças, por exemplo, são os conteúdos ajustados às idades dos leitores, os autores de prestígio, a qualidade das ilustrações e a própria apresentação dos livros.
No tocante à promoção da leitura e do livro, poderíamos mencionar vários exemplos de excelência a nível nacional e regional. Cá na Madeira, destacaria o Baú de Leitura que “é um projeto escolar da Secretaria Regional da Educação, implementado na Região Autónoma da Madeira em 2001, com o apoio da Fundação Gulbenkian, cujo objetivo principal é promover hábitos de leitura e escrita, junto dos alunos de todos os níveis de ensino.” Consultado em: http://projetos.gov-madeira.pt/baudeleitura/Pagina-Inicial/Sobre-o-Projeto.
O Baú de Leitura é um bonito projeto de partilha de recursos à volta do livro entre escolas, bibliotecas, alunos, professores, educadores de infância, mediadores e animadores de leitura e técnicos-bibliotecários que realizam atividades conjuntas, como passatempos, exposições, palestras, saraus, tertúlias literárias, atividades de escrita criativa, investigação temática, dramatizações, visitas de estudo, intercâmbios culturais, atividades de expressão artística e plástica, visionamento de filmes, audição de histórias, encontro de escritores, comemorações de efemérides, concursos de declamação e de soletração, tudo com o objetivo maior de implementar o gosto pela leitura.
A nível nacional, ninguém terá dúvidas do pertinente papel que Plano Nacional de Leitura, tem desempenhado nestes quase 10 anos de plena atividade, com a objetivo de contribuir para elevar os níveis de literacia dos portugueses.
Então, não se compreende, como já foi anunciado, infelizmente, que o Plano Nacional de Leitura, que foi criado em 2006, terminará a sua atividade no próximo ano. Esperemos que, no mínimo, surja outro projeto que possa contribuir para melhorar os hábitos de leitura e escrita dos portugueses, desde os mais novos, envolvendo a comunidade escolar, os alunos, os docentes, os educadores, os animadores de bibliotecas e os pais.
Ainda a nível nacional gostaria de realçar o projeto das “Histórias da Ajudaris” que foi criado em 2009, com o objetivo de reunir numa obra coletiva contos escritos por e para crianças, coorientadas por professores solidários em contexto de sala de aula, abordando temas como a cidadania, os afetos e a educação ambiental. A ilustração destes contos criados pelas crianças de diversos estabelecimentos escolares é feita, solidariamente, por ilustradores convidados. Os exemplares destas “Histórias da Ajudaris” escritas com a imaginação e criatividade das crianças, podem ser adquiridos através do seguinte correio eletrónico: geral@ajudaris.org.
Não podemos falar numa sociedade do conhecimento sem hábitos de leitura, pois hoje ler e escrever são ações indispensáveis na vida de qualquer cidadão. E já que o Natal aproxima-se, que bom seria incluir nas hipóteses de presentes, o livro.
Não tenhamos dúvidas que a formação de leitores, também passa por uma adequada aposta na educação básica e na sua continuidade ao longo dos diferentes ciclos, no investir na criação e melhoria de bibliotecas públicas, incluindo as digitais, no apoio aos escritores, no surgimento de mais livrarias, editoras e feiras do livro.
De acordo com o sítio da internet do CITI (Centro de Investigação para Tecnologias Interativas da FCSH-UNL), “ aprender a ler não é um processo natural, como aprender a falar ou a andar. É um processo complexo que exige bastante acompanhamento. Para conseguir ler bem, é necessário e indispensável dominar a técnica da leitura e criar uma relação positiva com os livros. “ Consultado em: http://www.citi.pt/cursoslivres/leitura/.
Infelizmente, em Portugal, os níveis de domínio de leitura é muito preocupante, tanto na população adulta, como entre crianças e jovens. Assim, apesar de qualquer esforço que se faça, para aumentar os índices de leitura dos portugueses, se não se colocar o livro no centro da atividade escolar e uma importância no meio familiar, será impossível elevar os níveis de literacia no nosso país.
2016-09-02 | Zé Abreu