sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Há tantos museus (in)eficazes

wpid-icon-ze-abreu.png
Como podemos ler na página da internet do Comité Nacional Português do ICOM, “o museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite.” Consultado em: http://www.icom-portugal.org/default.aspx.
Sendo um museu, à partida, uma instituição sem fins lucrativos, por vezes, ficámos boquiabertos com o valor altíssimo dos ingressos para visitar certos museus. Muitos até não têm, lamentavelmente, ingressos mais favoráveis para famílias, jovens, idosos, estudantes e pessoas com necessidades especiais.
Pegando na premissa dos museus estarem ao serviço da sociedade, seria correto e aconselhável que o surgimento de novos espaços museológicos, fossem bem programados, de forma a satisfazer diversos públicos, de diferentes idades e com distintos interesses e possibilidades. Que sejam locais onde as pessoas se sintam bem-vindas e deem importância aos museus, como algo imprescindível para a construção de uma melhor coesão social, cultural e económica de uma sociedade livre e aberta.
Ao pensarmos num bom serviço em prol da sociedade, devemos ainda, descentralizar a localização de supostos novos museus, porque estas instituições culturais atraem público e mexem, para melhor, a pequena economia local.
Só congregando esforços de técnicos de museus, educadores, professores, encarregados de educação é que poderemos ter uma melhor educação museológica. Pois, visitar um museu é desenvolver os valores e a sensibilidade estética, aceder à informação de qualidade, estimular o sentido crítico, a curiosidade e a capacidade de reflexão.
As práticas museológicas capacitam-nos e fazem-nos pensar o mundo através da arte. O contacto com a arte museológica é necessário para o exercício de uma cidadania plena. Daí a importância dos museus serem instituições eficazes, não só na diversidade de coleções, de espaços e instalações, mas também na apresentação de atividades educativas e culturais realizadas de forma paralela com a atividade principal do museu e, ainda, terem sempre uma boa relação de proximidade com a comunidade. Nenhuma sociedade pode desenvolver-se sem apostar fortemente na componente cultural.
Criar o hábito de visitar os museus é estimular a educação museológica ativa e promover a diversidade cultural. Pois, como refere a Unesco, “ os museus são mais do que locais onde os objetos são exibidos e conservados.” Consultado em: http://en.unesco.org/themes/museums.

Um exemplo de boas práticas museológicas, na nossa região, acontece no Museu de Imprensa da Madeira, em Câmara de Lobos, onde além de termos a oportunidade de conhecer a História da Imprensa na Madeira e a sua evolução tipográfica e tecnológica, ao longo do ano, decorre naquele espaço, diversos encontros de interesse público, como: conferências, lançamentos de livros, concertos solidários, espetáculos artísticos, exposições temporárias, sessões solenes, workshops e seminários.
Entre outras atividades bem conseguidas destaco, ainda, os seguintes projetos associados a espaços museológicos: ”Música Conversada”, no Museu Quinta das Cruzes, numa iniciativa de Vítor Sardinha. É de realçar também a dinâmica que se criou com o novel Museu de Arte Contemporânea da Madeira, localizado na Calheta, que já recebeu um largo número de visitantes, desde a sua inauguração, a 8 de outubro de 2015. E muitos destes visitantes usaram o novo serviço de transporte associado ao museu, o “Mudas Bus” que, nos dias de funcionamento daquela instituição, faz o trajeto entre o Funchal e a Calheta, e vice-versa, sendo que o custo do bilhete, equivalente a 10 euros, já inclui o valor do ingresso para visitar o espaço museológico.
Uma bonita iniciativa foi também a exposição do Museu Nacional de Arte Antiga, inaugurada em fins de setembro de 2015. Este museu espalhou 31 réplicas de quadros da sua coleção pela baixa de Lisboa. Apesar de algumas obras terem sido levadas, aplaude-se esta ideia expositiva de aproximar a arte e a cultura dos que podem e dos que não podem pagar para entrar num museu.
Entre outros, estes são bons exemplos do papel dos museus junto da sociedade, enquanto muitos museus só se lembram em realizar atividades no dia internacional dos museus. E já agora, há que começar a preparar a comemoração do próximo Dia Internacional dos Museus (18 de Maio de 2016) tal como o ICOM – Conselho Internacional de Museus, que já está a preparar a celebração dessa data em torno do tema “Museus e paisagens culturais”.
Durante o ano, os museus, devem ter iniciativas à volta dos cuidados e preservação dos seus acervos, mostrando a sua força e originalidade, enquanto espaço cultural para a salvaguarda do património que está ao seu dispor. A partir destas iniciativas desenvolvidas no universo dos museus também se erguem pilares para uma sociedade mais inclusiva e assim, apoia-se a criatividade, a inovação e o surgimento de novos setores culturais.
Cultura museológica interessa, porque também é um pouco de nós que ali está, que contribui para uma sociedade mais culta, informada e sustentável. Por isso, é que os cidadãos devem desejar e valorizar os museus junto das comunidades, porque estes espaços servem para educar e sensibilizar para a importância do acesso à cultura e transmissão do património cultural às gerações futuras.
É fundamental que todos o envolvidos com as instituições museológicas conheçam e utilizem o Código Deontológico do ICOM, como um instrumento indispensável para o bom desempenho da sua atividade. Os museus devem ter uma gestão criativa que contribua para uma cidadania responsável, que estimule a criação de associações de amigos dos museus, o mecenato e o voluntariado. É ainda papel dos museus apresentarem publicações periódicas na área da museologia, terem os seus sites atualizados, adaptando-se à sociedade das novas tecnologias – lamentavelmente, alguns nem sítio da internet têm – e disponibilizarem boletins informativos sobre os seus acervos e sobre o que acontece esporadicamente. Devem ter os Serviços Educativos ativos, que além das tradicionais visitas orientadas, possam desenvolver um projeto cultural diversificado e multidisciplinar, desde o dinamizar oficinas criativas, ações de sensibilização, conferências e outras atividades que tenham alguma ligação às questões museológicas. Importa, este diálogo com a comunidade, de forma a gerar comunicação, reflexão e manifestar interesse dos cidadãos em visitar os espaços museológicos.

Finalmente, achamos que é tempo do património cultural e museológico entrar na ordem do dia, como uma janela aberta para o debate cultural e um caminho para a inteligência coletiva. Assim, de forma a celebrar a importância dos museus na sociedade contemporânea, vamos todos procurar, neste novo ano de 2016, usufruir e valorizar a arte museológica que leva as pessoas a viajar pelas suas e outras culturas.
                                                                                                 2017-11-17 | Zé Abreu