sábado, 23 de dezembro de 2017

O Teatro na Madeira (não) está longe das luzes da ribalta

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O Teatro na Madeira tem sido ao longo dos tempos, proposto e levado ao palco como uma atividade recreativa e de ocupação de tempos livres, mas também como instrumento fundamental na formação e educação artística e cultural de todos os indivíduos. Imensos grupos de Teatro têm surgido e outros, naturalmente, se extinguindo. Mas a verdade, é que os grupos de Teatro têm sido um contributo não só de diversão e prazer, como também de educação formal e não formal para os envolvidos. De acordo com esta ideia está Peter Brook, ao afirmar que: “O Teatro é, para aquele que o faz, um exercício permanente. Representar, aceitar o desafio do jogo, é, assim, aceitar melhorar-se através do prazer, o que faz do Teatro um instrumento fantástico da educação.” (Mencionado http://teatronaeducacao.blogspot.pt/).
Ao consultarmos o significado da palavra Teatro no Grande Dicionário da Língua Portuguesa (2004, p. 1477), da Porto Editora, encontramos o seguinte: “Teatro é o lugar ou edifício onde se representam obras dramáticas e outros espetáculos; arte de representar; profissão de ator ou atriz; coleção de obras dramáticas de um autor, época ou país; conjunto da literatura dramática. Do grego théatron, “lugar donde se vê um espetáculo”, pelo latim teatru.“ Para Stanislavski, citado por Kusnet (1968, p. 18), “a arte dramática é a capacidade de representar a vida do espírito humano, em público e em forma artística.” Já Fonseca (2012, p. II) sublinha que o Teatro é uma: “forma de arte dinâmica, em que vemos homens e mulheres em ação (…) É uma forma de expressão humana, partilhada entre público e atores, que tem lugar no presente, mas que nos transporta para outros tempos e lugares.” Como se constata, a palavra Teatro tem vários significados e interpretações consoante o contexto em que é utilizada e desenvolvida.
Atualmente na Madeira existe grupos de Teatro em plena ação, com diversas atividades e em vários contextos. Só para ficarem com uma ideia, acontece na Madeira, anualmente, mais de uma dezena de festivais de Teatro, em diferentes âmbitos e que abrange diversas faixas etárias, tais como: O Festival Regional de Teatro Escolar “Carlos Varela”, no Funchal, o Amo-Teatro, na Camacha, a Mostra de Artes de Palco, no Estreito de Câmara de Lobos, o Encontro-TE (Encontro de Teatro-Educação) na Ponta do Sol, o Encontro de Teatro das Casa do Povo da RAM, em Santa Cruz, o Festival de Teatro de Machico, o Encontro de Teatro Sénior, em S. Roque do Faial, o Encontro de Teatro Comunitário, o Festival “et7ra&TAL” no Funchal, o Festival Avesso, na Ponta do Sol e ainda o Encontro de Teatro das Misericórdias da Madeira, em Santa Cruz. Obviamente, que alguns destes eventos têm pouca expressão junto da comunidade onde estão inseridos, mas têm todo o mérito. Outros, porém, apresentam-se ”à grande e à francesa”, convidando e pagando a grupos de fora da ilha e outros apesar dos poucos recursos vão se mantendo e organizando, efetivamente, as suas atividades teatrais com e para a comunidade.
É de mencionar que o ensino do Teatro também tem, desde há uns anos, o seu lugar bem marcado em algumas instituições regionais. Podemos começar pela Direção de Serviços de Educação Artística e Multimédia, que disponibiliza o Teatro no âmbito das atividades artísticas extraescolares. O Conservatório, Escola Profissional das Artes da Madeira, – Eng.º Luíz Peter Clode, tem à disposição dos alunos que transitam para o secundário, o Curso Profissional de Teatro.
Um destaque especial para a Escola Básica e Secundária da Ponta do Sol que disponibiliza aos seus alunos, de forma ininterrupta, o Teatro como disciplina de educação artística no 3º ciclo do ensino básico, desde o ano letivo 2003-2004. Esta escola, foi pioneira na Madeira e atualmente é o único estabelecimento de ensino Madeirense a oferecer o Teatro como opção de educação artística nos 7.ºs e 8.ºs anos de escolaridade.
O Teatro como género de arte, nos seus mais variados contextos – amador, profissional, educação – é “simultaneamente manifestação de cultura e meio de comunicação do conhecimento cultural.” (Roteiro para a Educação Artística, 2006).
Felizmente, há grupos de Teatro ativos na maioria dos concelhos da RAM. Grupos amadores? Sim, grupos que amam o Teatro. E que não são subsidiodependentes. São grupos genuínos, sem seleção dos ditos melhores, mas com a inclusão de todos.
Num patamar mais organizado e com um trabalho artístico-teatral continuo, encontra-se o Teatro Experimental do Funchal que no presente ano está a comemorar o quadragésimo aniversário. Depois temos alguns grupos de Teatro ativos afetos, diretamente, às casas do povo, que são um exemplo do que pode ser o “Teatro e Comunidade”. Há que referir também os grupos de Teatro escolar, onde crianças e jovens desenvolvem uma experiência teatral no âmbito das atividades de enriquecimento curricular. Ainda bem que há várias escolas que disponibilizam aos seus alunos o Teatro, pelo menos, nas atividades extracurriculares. Pois de acordo com Redondo Júnior (1978), “a juventude pode salvar o teatro.” Existe também cerca de meia dúzia de associações, companhias de Teatro que vêm desenvolvendo regularmente projetos teatrais de interesse na nossa região, como por exemplo, a Associação “Companhia Contigo Teatro”.
Mas, importa referir que um grupo de Teatro que se preze, é aquele coletivo que apresenta espetáculos de forma esporádica e não somente, de tempos a tempos. Essa história de formar um grupo de Teatro só com o intuito de aproveitar subsídios ou apoios públicos para realizar um ou dois espetáculos, é muito pouco. Há grupos de Teatro que se formam e se apresentam com pompa e circunstância e depois, infelizmente, terminam num abrir e fechar de olhos.
O Teatro madeirense, naturalmente, está muito orgulhoso do que tem feito, mas pode e deve ir mais longe, pois, ainda encontra-se longe das luzes da ribalta.
O Teatro nos diferentes âmbitos, é essencial para o desenvolvimento de um panorama artístico dinâmico, cultural e socialmente atuante. Nas palavras de Frederico Garcia Lorca “um povo que não ajuda e não fomenta o seu Teatro, se não está morto, está moribundo.” Assim, neste mês do Teatro, seria, culturalmente normal e correto, refletirmos sobre o significado, a importância e a relevância do Teatro na Madeira? Espero que este artigo seja um contributo para pensarmos e agirmos mais com Teatro.
Apesar de só termos um Teatro na Madeira (Teatro Municipal Baltazar Dias), muitos são os auditórios espalhados pela Madeira, incluído o Porto Santo, com condições muito interessantes para apresentar-se espetáculos de Teatro. Mas nos locais onde não existe estes auditórios, há sempre um salão paroquial, uma sala polivalente ou um espaço ao ar livre, onde se pode conceber e mostrar uma representação teatral. O Teatro acontece e prospera em qualquer palco. “Posso chegar a um espaço vazio qualquer e usá-lo como espaço de cena.” Peter Brook (2008, p. 7)
E enquanto aguardámos a mensagem do dia mundial do Teatro, que também nos alenta, ficámos à luz destas opiniões, ideias, que nos levam refletir sobre a aplicação e o exercício do Teatro na RAM. Acreditamos que conhecendo processos, identificando problemas, analisando conceções e motivações à volta desta arte, pode-se contribuir para a consolidação do Teatro como prática comum na vida dos cidadãos madeirenses. Pois, pegando nas palavras de Almeida Garrett, “o Teatro é um excelente meio de civilização, mas não prospera onde não há.” E agora, chiuuuuu! Silêncio! Que já se ouve as pancadas de Molière. O espetáculo vai começar!
| Zé Abreu

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