IX Encontro de Teatro de Casas do
Povo da RAM
“As Casas do Povo são entidades privadas, sem fins lucrativos, cuja esfera de atuação
vai desde a defesa, preservação e divulgação da cultura e etnografia da Região
Autónoma da Madeira até à formação profissional.” Fonte: (http://acaporama.org/3.0/).
Neste artigo de opinião, apeteceu-me falar um
pouco sobre o interessantíssimo universo de grupos de Teatro ligados às Casas
do Povo da Madeira, que são muitos, todos válidos e bastante enriquecedores
porque têm projetos tão diferentes nas várias áreas que cumprem a vertente da
representação e que mostram a identidade de cada zona através da arte teatral. Alguns
grupos trabalham em cooperação, em parceria com outras expressões artísticas
como a dança, a música, entre outras, o que só vem contribuir para um melhor
conhecimento e integração das artes. O importante é que, independentemente da
escala de cada intervenção artística – espetáculos longos, ou mesmo com
sketches teatrais - todos os trabalhos devem ser feitos com a mesma noção de
qualidade e de responsabilidade, pois o teatro deve ser um lugar aberto, de
debate e pensamento com a comunidade.
Julgo que justifica-se - e bem - um Encontro
de Teatro das Casas do Povo da RAM com matéria da ilha, sem loucuras de
orçamentos, ou anunciado como alguns eventos que não são mais do que uma
estratégia de markentig proliferada de grupos do exterior - que são bem-vindos
-, mas deixando, por vezes, de fora os grupos da região.
Mas o que conta é que, a bonita cidade de Santa
Cruz acolhe nos próximos dias 1,2,3 e 4 de dezembro, o IX Encontro de Teatro
das Casas do Povo da Região Autónoma da Madeira. Um evento cultural que vai
receber os grupos de Teatro das Casa do Povo da RAM que aceitaram o convite de
participação. Todos os espetáculos terão entrada livre e acontecerão na Praça
Dr. João Abel de Freitas, na Casa do Povo local e no Salão Paroquial de Santa
Cruz. A organização deste evento teatral é da responsabilidade da Casa do Povo
de Santa Cruz, com o apoio do Município de Santa Cruz, da Acaporama e da
Paróquia de Santa Cruz com a cedência do Salão Paroquial para a realização dos
espetáculos.
O evento começará na madrugada do dia 1 de
dezembro, com a representação Teatral alusiva ao Dia da Restauração da
Independência, pelas 06h00 na praça Dr. João Abel de Freitas. Realça-se que
esta iniciativa de comemorar o Dia da Restauração da Independência, é única em
Portugal e, na Madeira começou com a Banda Municipal de Santa Cruz, que para
assinalar esta data, há mais de meio século, sai às ruas de Santa Cruz pelas
06h00 da manhã, entoando o Hino da Restauração. Nos últimos anos juntou-se, e
bem, a esta iniciativa de comemorar o Dia da Restauração da Independência a
representação teatral, neste caso feita pelo Teatro ao Minuto da Casa do Povo
de Santa Cruz. Ainda no dia 1 pelas 16h00, na Casa do Povo de Santa Cruz,
dar-se-á a abertura oficial do IX Encontro de Teatro com o lançamento do livro
“Bendito Seja o Homem Entre as Mulheres” de Zé Abreu, que será acompanhado com
a representação de algumas cenas do livro pela Oficina de Teatro do Clube
Portugal Telecom-Madeira. “Aceitei integrar, sem hesitar, esta humilde obra no
programa do IX Encontro de Teatro das Casas do Povo da Região Autónoma da
Madeira, com o qual estou ligado desde a primeira edição. Aceitei porque
acredito que o teatro promovido pelas Casas do Povo é – deve ser – um teatro de
e para a comunidade.” Realça-se que o valor das vendas dos livros durante o Encontro
de Teatro reverterão, na sua totalidade, para minimizar as despesas do evento. Neste
mesmo dia o Teatro ao Minuto apresentará nas varandas interiores da Casa do
Povo local a recriação teatral do dia da Restauração da Independência. Como o
teatro nas Casas do Povo é uma arte social, será entregue uma cadeira de rodas
através de uma parceira da Casa do Povo de Santa Cruz com a Associação
Portuguesa de Deficientes - Delegação da Região Autónoma a Madeira, no âmbito
do projeto da recolha de tampinhas. No dia 2 de dezembro será a vez do Teatro Sénior
ligado às Casas do Povo, subir ao palco do Salão Paroquial pelas 15h00, com o
Grupo de Teatro da Casa do Povo da Ponta Delgada, seguindo-se o Grupo de Teatro
da Casa do Povo de São Martinho e o Grupo de Teatro da Santa Casa da
Misericórdia de Santa Cruz em parceria com a Casa do Povo local.
Já no dia 3 de dezembro, pelas 20h00, no salão
paroquial, será a vez dos Grupos de Teatro das Casas do Povo participantes - Teatro
Experimental da Casa do Povo da Camacha; Grupo de Teatro ao Minuto da Casa do
Povo de Santa Cruz; Grupo de Teatro da Casa do Povo da Ponta do Sol, o Grupo de
Teatro da Casa do Povo de Santana e o Grupo de Teatro da Casa do Povo do Estreito
em parceria com a OFITE -, apresentarem ao público as suas propostas teatrais.
O encerramento desta iniciativa de cariz cultural
será no domingo, dia 4, pelas 16h00, no salão paroquial de Santa Cruz com
entrega de troféus aos grupos participantes, seguindo-se a apresentação do
Espetáculo “Yerma, Uma Mulher Vazia e Seca”, a partir de Frederico Garcia
Lorca, pela OFITE | Oficina de Teatro do Centro Cívico do Estreito, com direção
artística a cargo de Zé Abreu.
Este projeto do Encontro de Grupos de Teatro iniciou-se
no ano de 2008 e tem vindo a dinamizar de forma ininterrupta, ano após ano, os
grupos de teatro participantes, ligados às Casas do Povo da Madeira. O
principal objetivo desta iniciativa de teatro amador passa por contribuir para
a promoção e dinamização desta expressão artística junto da comunidade em
geral. Pois entendemos que as Casas do Povo e os seus grupos de teatro quando
são fechados só perdem e fazem a comunidade perder. Só ganhamos culturalmente quando
temos uma consciência aberta para dar e receber.
Na realidade, muitas crianças, jovens e
adultos, da nossa ilha, só têm a oportunidade de pisar as tábuas de um palco,
integrando os projetos destes grupos. Assim, cabe às Casas do Povo
disponibilizar o teatro à comunidade como um lugar de pensamento e partilha de
saberes. Entendemos o teatro nas Casas do Povo como um teatro social que
contribui para o desenvolvimento de uma cidadania participativa através da arte.
Felizmente há muitas pessoas, por toda a
nossa região, das várias faixas etárias que mostram vontade de experimentar a
suas capacidades expressivas através do processo teatral e subir a um palco. Por
isso é que este Encontro de Teatro existe a pensar nas pessoas, como um espaço
onde toda a gente tem voz, e possibilidade de confrontar conhecimentos. Pois um
grupo de teatro ativo é aquele que apresenta esporadicamente trabalhos práticos
e não o que tem pouca atividade, apresentando um trabalho só lá, “quando rei
faz anos”.
Belíssima ideia esta de criar-se e manter-se
ativo o mais antigo encontro de grupos de teatro da Madeira, - à exceção do
Encontro Regional de Teatro Escolar “Carlos Varela” - diria mesmo ser um gesto
culto, de coragem e bravura. Só esperamos que todos trabalhem com empenho
envolvendo as comunidades, visto que um grupo de teatro não se faz apenas
metido na sua capelinha. Sem querer ferir susceptibilidades, diria mesmo que, “só
contam os que cá estão”. Não se faz o caminho, totalmente, sozinhos. Porque o
teatro não existe sem debate, sem o encontro de pessoas. A arte do teatro
precisa constantemente do Outro. Por isso é que servir o teatro, através de um
encontro de grupos, de um livro ou de um espetáculo, é um ato democrático que
me cria um agrado profundo. Em boa verdade, diria que mais teatro de (e para)
todos precisa-se!
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