domingo, 25 de agosto de 2019


IX Encontro de Teatro de Casas do Povo da RAM
As Casas do Povo são entidades privadas, sem fins lucrativos, cuja esfera de atuação vai desde a defesa, preservação e divulgação da cultura e etnografia da Região Autónoma da Madeira até à formação profissional.” Fonte: (http://acaporama.org/3.0/).
Neste artigo de opinião, apeteceu-me falar um pouco sobre o interessantíssimo universo de grupos de Teatro ligados às Casas do Povo da Madeira, que são muitos, todos válidos e bastante enriquecedores porque têm projetos tão diferentes nas várias áreas que cumprem a vertente da representação e que mostram a identidade de cada zona através da arte teatral. Alguns grupos trabalham em cooperação, em parceria com outras expressões artísticas como a dança, a música, entre outras, o que só vem contribuir para um melhor conhecimento e integração das artes. O importante é que, independentemente da escala de cada intervenção artística – espetáculos longos, ou mesmo com sketches teatrais - todos os trabalhos devem ser feitos com a mesma noção de qualidade e de responsabilidade, pois o teatro deve ser um lugar aberto, de debate e pensamento com a comunidade.
Julgo que justifica-se - e bem - um Encontro de Teatro das Casas do Povo da RAM com matéria da ilha, sem loucuras de orçamentos, ou anunciado como alguns eventos que não são mais do que uma estratégia de markentig proliferada de grupos do exterior - que são bem-vindos -, mas deixando, por vezes, de fora os grupos da região.
Mas o que conta é que, a bonita cidade de Santa Cruz acolhe nos próximos dias 1,2,3 e 4 de dezembro, o IX Encontro de Teatro das Casas do Povo da Região Autónoma da Madeira. Um evento cultural que vai receber os grupos de Teatro das Casa do Povo da RAM que aceitaram o convite de participação. Todos os espetáculos terão entrada livre e acontecerão na Praça Dr. João Abel de Freitas, na Casa do Povo local e no Salão Paroquial de Santa Cruz. A organização deste evento teatral é da responsabilidade da Casa do Povo de Santa Cruz, com o apoio do Município de Santa Cruz, da Acaporama e da Paróquia de Santa Cruz com a cedência do Salão Paroquial para a realização dos espetáculos.
O evento começará na madrugada do dia 1 de dezembro, com a representação Teatral alusiva ao Dia da Restauração da Independência, pelas 06h00 na praça Dr. João Abel de Freitas. Realça-se que esta iniciativa de comemorar o Dia da Restauração da Independência, é única em Portugal e, na Madeira começou com a Banda Municipal de Santa Cruz, que para assinalar esta data, há mais de meio século, sai às ruas de Santa Cruz pelas 06h00 da manhã, entoando o Hino da Restauração. Nos últimos anos juntou-se, e bem, a esta iniciativa de comemorar o Dia da Restauração da Independência a representação teatral, neste caso feita pelo Teatro ao Minuto da Casa do Povo de Santa Cruz. Ainda no dia 1 pelas 16h00, na Casa do Povo de Santa Cruz, dar-se-á a abertura oficial do IX Encontro de Teatro com o lançamento do livro “Bendito Seja o Homem Entre as Mulheres” de Zé Abreu, que será acompanhado com a representação de algumas cenas do livro pela Oficina de Teatro do Clube Portugal Telecom-Madeira. “Aceitei integrar, sem hesitar, esta humilde obra no programa do IX Encontro de Teatro das Casas do Povo da Região Autónoma da Madeira, com o qual estou ligado desde a primeira edição. Aceitei porque acredito que o teatro promovido pelas Casas do Povo é – deve ser – um teatro de e para a comunidade.” Realça-se que o valor das vendas dos livros durante o Encontro de Teatro reverterão, na sua totalidade, para minimizar as despesas do evento. Neste mesmo dia o Teatro ao Minuto apresentará nas varandas interiores da Casa do Povo local a recriação teatral do dia da Restauração da Independência. Como o teatro nas Casas do Povo é uma arte social, será entregue uma cadeira de rodas através de uma parceira da Casa do Povo de Santa Cruz com a Associação Portuguesa de Deficientes - Delegação da Região Autónoma a Madeira, no âmbito do projeto da recolha de tampinhas. No dia 2 de dezembro será a vez do Teatro Sénior ligado às Casas do Povo, subir ao palco do Salão Paroquial pelas 15h00, com o Grupo de Teatro da Casa do Povo da Ponta Delgada, seguindo-se o Grupo de Teatro da Casa do Povo de São Martinho e o Grupo de Teatro da Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz em parceria com a Casa do Povo local.
Já no dia 3 de dezembro, pelas 20h00, no salão paroquial, será a vez dos Grupos de Teatro das Casas do Povo participantes - Teatro Experimental da Casa do Povo da Camacha; Grupo de Teatro ao Minuto da Casa do Povo de Santa Cruz; Grupo de Teatro da Casa do Povo da Ponta do Sol, o Grupo de Teatro da Casa do Povo de Santana e o Grupo de Teatro da Casa do Povo do Estreito em parceria com a OFITE -, apresentarem ao público as suas propostas teatrais.
O encerramento desta iniciativa de cariz cultural será no domingo, dia 4, pelas 16h00, no salão paroquial de Santa Cruz com entrega de troféus aos grupos participantes, seguindo-se a apresentação do Espetáculo “Yerma, Uma Mulher Vazia e Seca”, a partir de Frederico Garcia Lorca, pela OFITE | Oficina de Teatro do Centro Cívico do Estreito, com direção artística a cargo de Zé Abreu.
Este projeto do Encontro de Grupos de Teatro iniciou-se no ano de 2008 e tem vindo a dinamizar de forma ininterrupta, ano após ano, os grupos de teatro participantes, ligados às Casas do Povo da Madeira. O principal objetivo desta iniciativa de teatro amador passa por contribuir para a promoção e dinamização desta expressão artística junto da comunidade em geral. Pois entendemos que as Casas do Povo e os seus grupos de teatro quando são fechados só perdem e fazem a comunidade perder. Só ganhamos culturalmente quando temos uma consciência aberta para dar e receber.
Na realidade, muitas crianças, jovens e adultos, da nossa ilha, só têm a oportunidade de pisar as tábuas de um palco, integrando os projetos destes grupos. Assim, cabe às Casas do Povo disponibilizar o teatro à comunidade como um lugar de pensamento e partilha de saberes. Entendemos o teatro nas Casas do Povo como um teatro social que contribui para o desenvolvimento de uma cidadania participativa através da arte.
Felizmente há muitas pessoas, por toda a nossa região, das várias faixas etárias que mostram vontade de experimentar a suas capacidades expressivas através do processo teatral e subir a um palco. Por isso é que este Encontro de Teatro existe a pensar nas pessoas, como um espaço onde toda a gente tem voz, e possibilidade de confrontar conhecimentos. Pois um grupo de teatro ativo é aquele que apresenta esporadicamente trabalhos práticos e não o que tem pouca atividade, apresentando um trabalho só lá, “quando rei faz anos”.
Belíssima ideia esta de criar-se e manter-se ativo o mais antigo encontro de grupos de teatro da Madeira, - à exceção do Encontro Regional de Teatro Escolar “Carlos Varela” - diria mesmo ser um gesto culto, de coragem e bravura. Só esperamos que todos trabalhem com empenho envolvendo as comunidades, visto que um grupo de teatro não se faz apenas metido na sua capelinha. Sem querer ferir susceptibilidades, diria mesmo que, “só contam os que cá estão”. Não se faz o caminho, totalmente, sozinhos. Porque o teatro não existe sem debate, sem o encontro de pessoas. A arte do teatro precisa constantemente do Outro. Por isso é que servir o teatro, através de um encontro de grupos, de um livro ou de um espetáculo, é um ato democrático que me cria um agrado profundo. Em boa verdade, diria que mais teatro de (e para) todos precisa-se!

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