Cultura Gera
Felicidade
“ É de cultura
como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o
entendimento dos povos que vos quero falar”. Iniciei este artigo de opinião com
as sábias palavras de Helena Vaz da Silva, ex-presidente do Centro Nacional de Cultura, porque além de admirar o pensamento e a obra desta
exímia mulher, também comungo da ideia que a cultura deve trazer felicidade a
todos os seres humanos.
Há imensas
iniciativas culturais, que são de louvar pela qualidade, justificação e impacto
na vida das comunidades. Por exemplo, na União Europeia surgiu em 1985 uma
iniciativa com o nome de Cidade Europeia da Cultura, que por sua vez, em 1999,
o Conselho de Ministres e o Parlamento, decidiram mudar o nome para Capital
Europeia da Cultura. A Capital Europeia da
Cultura é uma iniciativa da União Europeia e tem por objetivo a promoção de uma
cidade da Europa por um período de um ano, durante o qual a cidade possui a
hipótese de mostrar à Europa a sua vida e desenvolvimento cultural, permitindo
um melhor conhecimento mútuo entre os cidadãos da União Europeia. Portugal já foi contemplado três vezes com a Capital
Europeia da Cultura, nomeadamente, Lisboa em 1994, Porto em 2001 e Guimarães em
2012.
Um dos
objetivos da iniciativa Capital Europeia da Cultura é “valorizar a riqueza
e a diversidade das culturas europeias, assim como as características comuns, e
contribuir para um maior conhecimento mútuo dos cidadãos europeus.”
Então, regionalmente,
também temos que saber valorizar a riqueza e a diversidade das culturas
Madeirenses, e até indo mais longe no eficaz incentivo à aprendizagem da nossa
música, das nossas danças, das nossas tradições do bordado, do vime, etc.
No ano de 2016
as cidades de Donostia-San Sebastián (Espanha) e Wroclaw (Polónia), estão a realizar a capital europeia da cultura. Já no
próximo ano serão as cidades de Aarhus (Dinamarca) e Paphos (Chipre). Enquanto que em 2018 as
cidades serão Leeuwarden (Países Baixos) e Valleta (Malta). Portugal só terá uma nova Capital Europeia da
Cultura em 2027 em parceria com uma cidade da Letónia.
Na madeira também aconteceu, por um tempo, uma
iniciativa denominada Município da Cultura, que na minha opinião, trouxe pouco
ou mesmo nada de novo, pois numa região tão pequena e proliferada com tanta
sobreposição de eventos culturais, não é viável estarmos a denominar anualmente
um Município da Cultura. Quando na sua maioria acontecia repetir-se os eventos,
já em curso, e acrescentando-se somente, “no âmbito do município da cultura”.
Interessa
sim apostar forte nos eventos culturais que já existem dando-lhes importância
como iniciativas que promovem o conhecimento da vasta e genuína diversidade
cultural. Importa criar parcerias com as organizações de eventos que já estão
no terreno e não limitar-se a criar novos eventos com os mesmos formatos ou
mudando-lhes, simplesmente o nome.
Cada município deve procurar valorizar a cultura popular
como contributo para o desenvolvimento local. Pois o
conhecimento da cultura local reforça a valorização das gentes e incentiva o
desenvolvimento da região. Nesta era
da globalização, há que encarar, cada vez mais, as tradições como um fator de
identidade cultural, onde o ser humano possa ser inovador, mas também conhecedor
e possuidor de uma tradição que alavanca o setor económico e turístico.
Refletindo nesta relação entre cultura e turismo
e já agora, pensando, localmente, interessa estar atento às reflexões que serão
debatidas no âmbito da II Jornada CIERL. Turismo
e Culturas Insulares, que acontecem já, na próxima quarta-feira, 2 de Novembro, entre as 9:30 e as 18:00, no Colégio dos Jesuítas.
Não
podemos deixar extinguir-se as tradições pois quanto mais valorizarmos as manifestações
culturais, os saberes, as expressões populares, as crenças, mais incentivos e
mais oportunidades surgirão. A riqueza cultural da nossa região é impar, mas
nem sempre bem aproveitada e valorizada como uma necessidade imprescindível
para o nosso crescimento a vários níveis. Pois,
segundo Ortega & Gasset “a cultura é uma necessidade imprescindível de toda
uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um
atributo do homem.”
Ao debruçarmos sobre a importância de
valorizar a cultura popular, o ideal seria que a mesma fosse uma disciplina presente
no currículo escolar. Para que as crianças e os jovens pudessem também ser
conhecedores da sua identidade cultural e uns verdadeiros fazedores de opinião
e cultura. Há que não esquecer que a cultura tradicional da Madeira é um
atrativo para apostarmos num verdadeiro turismo cultural.
Claro
que há que valorizar também as culturas urbanas e juvenis como, por exemplo, o
hip hop, o grafite, etc. O acesso à cultura deve ser abrangente de maneira que
abarque os interesses de crianças, jovens e adultos.
Obviamente que também devemos reconhecer que tem sido feito algum inventário, gestão e
divulgação, até de forma online, de parte do património cultural (móvel, imóvel
e imaterial) e natural da Madeira. Mas há que recuperar a cultura
popular e tradicional, de forma ativa, para que seja realmente um alvo para um
turismo consistente.
Por vezes assistimos, por parte de alguns dos nossos decisores
políticos e agentes culturais, a discursos muitos bonitos e aprumados, mas na
prática, vê-se pouco, no que toca a “materializar-se” a cultura em algo
visível, palpável. No entanto, alguns “… responsáveis
políticos nacionais e estrangeiros reconhecem que a cultura tem condições
objetivas para criar riqueza, emprego e reforçar a identidade nacional.” Letria
(2014).
À partida onde há pessoas há cultura, independentemente dos
vários conceitos que se dá ao termo cultura. A evolução de
uma terra depende muito da aposta na cultura e no talento dos artistas e
criadores culturais com criatividade e inteligência em envolver a comunidade
com os seus saberes e tradições.
Mas
quando atravessámos uma crise a área da cultura é sempre uma das primeiras a
levar um corte. Infelizmente, a visão cultural de alguns dos nossos autarcas
deixam muito a desejar, no que toca a envolver de forma ativa a comunidade em projetos
de índole cultural. Eu sei que é preciso ter coragem para investir na cultura e
nas artes. Pois “se um executivo autárquico está convicto de que a atividade
cultural pode contribuir para criar mais emprego, para ajudar o sector
turístico e o da restauração e pode ainda contribuir para atrair visitantes
nacionais e estrangeiros, deverá ser cauteloso nos cortes, já que eles podem
afetar uma área de potencial estratégico. “ Letria (2014)
Também
só apologista que o suporte da cultura, não deverá depender somente do setor
público, há que procurar as parcerias, os patrocínios. Mas na realidade, há uma
falta de perspetiva cultural a longo prazo, quando se aposta, maioritariamente,
em eventos “fabricados”, importando e pagando a peso de ouro, os criadores dos
projetos artístico-culturais. O que fica na formação cultural e ativa das
pessoas é pouco, muito pouco.
Para
finalizar há que não esquecer que a cultura gera felicidade ao contemplarmos,
compreendermos, transformarmos e aperfeiçoarmos tudo o que tem a ver connosco,
com os nossos bens e valores.
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