Julgo que
ninguém tem dúvidas que a educação através da arte é imprescindível para a
formação integral das crianças e jovens, bem como para o exercício de uma
cidadania plena. Assim já atuavam os gregos da antiguidade que deram às artes
um papel de destaque na educação. A
educação artística, como defende Alberto B. Sousa (2003), “proporciona uma
equilibrada cultura geral, com vivências culturais no domínio das letras, das
ciências e das artes, que levará a um melhor desenvolvimento da pessoa, no seu
todo”.
Por isto, é que o Teatro como disciplina de
educação artística, desempenha um papel importante na educação, uma vez que
trabalha diferentes expressões: corporal, vocal, musical, escrita e plástica. E,
obviamente, ajuda os alunos a desenvolverem competências nos domínios cognitivos,
emocional, afetivo, pessoal, social, artístico e cultural. Também os alunos
envolvidos num processo de Teatro-educação desenvolvem a confiança em si e nos
outros, a capacidade de trabalhar em equipa, de desenvolver a oratória, a
concentração, a memória, a dicção, a leitura e compreensão de textos
(dramáticos, poéticos, contos, etc.), a respiração, a projeção, o estar em
público, o falar em público, a criatividade, a capacidade de abstração, a
escrita dramática criativa, o sentido estético e a aprendizagem dos códigos
teatrais.
Mas em Portugal, infelizmente, verifica-se um
desinvestimento do Teatro na educação por culpa dos vários governos de
diferentes partidos. E isso é preocupante quando se fala cada vez mais na
importância de trabalharmos a criatividade junto dos nossos alunos. Nas
palavras de Sir Ken Robison “a escola mata a criatividade”. Interpreto estas
palavras, quando a escola não oferece às crianças e aos jovens a oportunidade
de terem uma experiência enriquecedora no universo da educação artística.
Numa época em que as crianças e jovens cada
vez mais estão “reféns” das novas tecnologias, uma disciplina como o Teatro é
um caminho para uma melhor socialização, para uma melhor aprendizagem individual
e coletiva através da conceção de projetos de artes performativas dentro e fora
da escola.
Pois apostar no Teatro na escola é apostar
numa educação para a cidadania, com vivências diversificadas e num currículo
que se deseja relevante e que estimule os diferentes tipos de conhecimento e
formas de aprender. Ter uma experiência no Teatro-educação é ter consciência
pedagógica e abertura para o mundo artístico que impele para a inovação. Nesta linha
de pensamento está Peter Brook, ao afirmar que: “ O teatro é, para aquele que o
faz, um exercício permanente. Representar, aceitar o desafio do jogo, é, assim,
aceitar melhorar-se através do prazer, o que faz do teatro um instrumento
fantástico da educação.”
Fazendo um
enquadramento da educação artística na escola atual, com a introdução do
Teatro/expressão dramática como disciplina curricular do Sistema Educativo
Português, detetamos facilmente que a inclusão do Teatro na escola portuguesa
tem sido feita de forma lenta e pouco sistemática.
Se repararmos,
no 1.º Ciclo do Ensino Básico, a Expressão Dramática faz parte do
currículo, mas é essencialmente desenvolvida no âmbito de Atividades de
Enriquecimento Curricular ou com as expressões integradas.
No 2.º ciclo do
Ensino Básico, não existe qualquer disciplina com ligação ao Teatro. No 3.º
ciclo, existe a Oficina de Teatro, somente no 7.º e 8.ºanos, como opção de
escola.
No Ensino Secundário, até já existiu a disciplina
de Oficina de Expressão Dramática, mas entretanto terminou. No ensino
profissional, existem cursos de Teatro em poucas escolas. No entanto, como sabemos no nosso país existe várias instituições de ensino superior que oferecem cursos no campo das artes do
espetáculo, então porque não existir um curso de artes do espetáculo no ensino
secundário, dirigido a alunos que quisessem seguir estudos superiores na área
artística?
O Teatro ao serviço da educação dá ao estudante o ensejo
de valorizar-se, de integrar-se harmoniosamente no grupo, aumentando o senso de
responsabilidade e o sucesso do trabalho. “Não há dúvida que o teatro pode ser
um sitio muito especial” (Brook, 2008, p. 139) e a escola é certamente um sítio
muito especial, para o florescimento do Teatro-educação.
Ainda à volta da implementação do Teatro na
educação em Portugal, mais recentemente, no ano letivo 2012-2013 foi lançada
uma discussão pública sobre a educação artística no currículo e sem se conhecer
os vários contributos individuais e coletivos, avançou-se, logo com uma nova
revisão curricular - Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho -, onde se constata logo que a educação artística diminuiu a sua presença
no currículo, nomeadamente no que diz respeito à disciplina de Teatro.
A verdade é que no currículo anterior os
alunos do 7.º e 8.º ano tinham, semestralmente, apenas duas disciplinas de
educação artística: Educação visual e outra a definir por cada escola (Teatro,
Dança, Música, etc.) e no 9.º ano, podiam ter, anualmente, apenas uma
disciplina de educação artística: Educação Visual ou Educação Tecnológica ou
oferta de escola. Já com a entrada em vigor do novo Decreto-Lei n.º 139/2012 a disciplina de oferta de escola passou a ser
de natureza artística ou tecnológica e deixou de existir – lamentavelmente – no
9.º ano. Não se compreende como é que em pleno século XXI os alunos de 9.º ano,
por exemplo, não podem frequentar mais do que uma disciplina de educação
artística, nem possam ter a opção de escolha de uma área artística, que vá mais
ao encontro dos seus gostos.
É com muita mágoa que vejo que pouquíssimas
escolas no nosso país disponibilizam aos seus alunos a disciplina de Teatro. No caso da Madeira, só a Escola Básica e Secundária da
Ponta do Sol oferece aos alunos a opção da disciplina de Teatro.
Bendita a
hora que o conselho pedagógico da Escola Básica e Secundária da Ponta do Sol
deliberou oferecer a opção de Teatro como disciplina de educação artística para
o 3º ciclo do ensino básico a parir do ano letivo 2003-2004. É de salientar que
esta escola foi pioneira - e atualmente única -, na ilha da Madeira a ter o
Teatro como disciplina de educação artística.
Assim, muitas
crianças e jovens têm viajado como artenautas pelo mundo do Teatro; fazendo
desta arte um complemento essencial na sua formação pessoal, artística e
cultural.
Legalmente, qualquer escola do 3.º ciclo, de acordo
com o seu projeto educativo pode oferecer o Teatro como disciplina de educação
artística aos alunos dos 7.ºs e 8.ºs anos.
Falta uma aposta clara e consistente nesta
área artística. E não têm faltado estudos, eventos, que abonam em prol das
artes na educação: Como a I Conferência Mundial sobre Educação
Artística, organizada pela UNESCO, que aconteceu de 6 a 9 de Março de 2006 no
Centro Cultural de Belém em Lisboa, surgiu o Roteiro para a Educação Artística,
onde “propõe-se explorar o papel da Educação Artística na satisfação da
criatividade e de consciência cultural no século XXI, especialmente sobre as
estratégias necessárias à introdução ou promoção da Educação Artística no
contexto de aprendizagem”. Na Madeira realiza-se anualmente um congresso de educação artística, organizado pela Direção de Serviços
de Educação Artística e Multimédia que tem realçado a importância da educação artística
como um lugar central e permanente em todo o currículo. O que tem faltado realmente
é a vontade política.
Oxalá que os nossos decisores políticos
entendam, de uma vez por todas, que a educação artística, nomeadamente o Teatro,
é uma área de grande interesse pedagógico que promove o desenvolvimento
integral e harmonioso dos alunos em todo o sistema educativo.
É urgente o teatro na escola. Tal como escreveu Redondo Júnior,
estamos seguros que “A juventude pode salvar o teatro“, mas para que isso seja
uma realidade é imprescindível criar-se no sistema educativo português, um
grupo de recrutamento para a disciplina de Teatro. Porque sem professores com
uma formação sólida na área teatral, jamais podemos falar no sucesso educativo
através da arte. Insisto: Para quando o grupo disciplinar de Teatro? Deram-nos
um número, o 900, que vale, nada! Enquanto não houver um verdadeiro “olhar
pedagógico-artístico-cultural” e vontade política para se criar um grupo
disciplinar de Teatro ou no mínimo criar e integrar o Teatro num grupo de artes
performativas, ou de expressões artísticas, por exemplo, o Teatro como
disciplina de Educação artística será sempre um parente pobre da educação
artística em Portugal.
O Teatro-educação não
tem como objetivo a formação de artistas, mas sim desenvolver qualidades
criativas e estéticas, que contribuam para formar crianças e jovens mais
dialogantes e criativos, capazes de aprenderem individualmente e em grupo. O Teatro é uma área artística que constrói
conexões entre alunos, escola e comunidade envolvente.
De acordo com João Mota (2008, mencionado em
Lopes, R. p. 208), “hoje fala-se mais em estarmos uns com os outros” e
realmente no Teatro só é possível desenvolver-se boas práticas se tivermos bem
definida esta relação de proximidade do Eu com o Outro.
A grande
maioria das crianças e jovens têm os seus primeiros ou únicos contatos com o
teatro através da escola. Por
isso é que a escola deve ter uma atenção redobrada ao importante papel das
artes e da cultura nas sociedades contemporâneas. Por isso, é que não podemos
empurrar o Teatro-educação para um canto, mas promove-lo como uma área artística que visa a formação integral
do indivíduo.
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